Saturday, February 25, 2006

Planeje sua carreira com inteligência

Subestimar o planejamento, procrastinar sua elaboração e adiar sua implementação é programar o próprio fracasso

Por Gutemberg B. de Macêdo (http://vocesa.abril.uol.com.br)

"Ao preparar-me para as batalhas, sempre percebi que planos são inúteis, mas o planejamento é indispensável."
Dwight D. Eisenhower (1890-1969)

A imprevisibilidade da vida, a temporariedade da carreira, a impermanência de negócios e de tecnologias no mundo moderno exigem de todos os "players", sem distinção, rigoroso e meticuloso planejamento de curto, médio e longo prazo. Subestimar a importância do planejamento, procrastinar sua elaboração e adiar sua implementação, sob a justificativa de que se está à espera de tempos melhores ou mais convenientes, do fator sorte ou de qualquer outro álibi, é programar o próprio fracasso em todas as esferas da vida – pessoal, familiar, financeira e profissional.

No mundo das organizações parece inquestionável: raros, ou mesmo raríssimos, são os profissionais que investem tempo, energia, esforço, pensamento crítico e massa encefálica no planejamento de sua carreira. Em geral, os indivíduos se comportam como se as organizações tivessem a responsabilidade única e exclusiva pelo planejamento de carreira de seus colaboradores, como se o mundo lhes devesse qualquer obrigação. Nada mais enganoso e triste. Cada profissional é agente único e responsável pelo planejamento e gestão do próprio destino e, conseqüentemente, da própria carreira. O mandamento divino é claro: “Domine o homem sobre todas as coisas”. Portanto, procrastinar o planejamento da carreira pessoal e confiar sua gestão a terceiros, como temos repetido inúmeras vezes, em artigos anteriores, é viver sob a dependência de circunstâncias e acontecimentos e não administrá-las com sabedoria e eficácia.

Como especialista em Outplacement, Career Counseling e Coaching Executivo, tenho observado e constatado que noventa e sete por cento dos profissionais, empregados ou em transição de carreira, jamais leram um livro, um único livro sequer, sobre planejamento de carreira. Eles se conduzem como verdadeiros cegos, que se movimentam errantes por ruas e avenidas congestionadas, tateando como que sem rumo, em flagrante desvantagem perante os demais transeuntes. Apesar das limitações impostas pela natureza, estes têm sensibilidade aguçada para superar obstáculos e perseguir com determinação seus objetivos. Aqueles, apesar de privilegiados pelo dom da visão, parecem sofrer de cegueira interior ou, no mínimo, de miopia crônica que compromete o percurso da própria carreira. Cegos funcionais não têm um mapa que os oriente ao longo do caminho e, muito menos, as ferramentas essenciais de que necessitam para empreender uma viagem relativamente segura. Portanto, encontram-se totalmente despreparados e vulneráveis a adversidades e ameaças ao longo de sua mais importante expedição de vida – a carreira.

Não raro, fico perplexo diante de tamanha ignorância e da irresponsabilidade com que tratam a vida e, principalmente, a própria carreira. Tal comportamento é paradoxal e inaceitável, visto que esses mesmos profissionais gastam grande parte do tempo planejando as atividades do departamento que gerenciam ou do negócio que administram. Afinal, o que é mais importante, a vida e a carreira ou o negócio em si? A resposta é óbvia: só pode ser a vida e a carreira.

Sabemos por experiência, observação e estudo que não existem negócios bem-sucedidos sem profissionais bem-sucedidos, negócios estáveis, sem homens de mentes e comportamentos estáveis, negócios e carreiras duradouros sem planejamento estratégico de curto, médio e longo prazo. Quando indagados sobre como planejaram ou planejam o curso de sua carreira, como escolheram a profissão, qual o futuro de sua atividade profissional, que planos alternativos têm diante da ameaça de possível pane ao longo do vôo, de que maneira estão se preparando para o amanhã, quais as mais importantes ameaças a seu futuro profissional, quais os livros mais importantes que leram sobre o assunto, que pessoas os influenciaram ao longo do caminho, quantas vezes procuraram, por iniciativa própria, um consultor de carreira, a fim de obter orientação, que metodologia usam, a fim de aferir o progresso de sua carreira, entre tantas e tantas outras perguntas relevantes, as respostas obtidas são quase sempre decepcionantes, vazias e desprovidas de conteúdo convincente.

Essas perguntas soam-lhes como ameaças, não como oportunidade para reflexão e estabelecimento de uma linha consistente de ação. A maioria, portanto, considera preferível ignorá-las ou arremessá-las a um lugar distante. Em curto prazo, trata-se de uma saída, aparentemente, menos dolorosa. Em médio e longo prazos, as conseqüências poderão ser extremamente danosas. Não custa enfatizar: pouco importa quão talentoso e habilidoso seja o profissional – homem ou mulher –, nenhuma corporação, instituto, fundação ou qualquer outra entidade vai prepará-lo para alcançar o sucesso pessoal e profissional. Cada qual tem de percorrer todas as etapas de vida e carreira por si mesmo. Você tem de assumir a responsabilidade pelo planejamento e gerenciamento de sua carreira. Essa é uma jornada solitária: somente você pode vivenciá-la, encurtá-la ou expandi-la, a despeito do ambiente onde a empreende.

A sociedade e as organizações modernas são por demais complexas e imprevisíveis para que profissionais releguem a terceiro ou quinto plano seu planejamento de vida e carreira. No meu trabalho, tenho acompanhado com tristeza, o pôr-do-sol prematuro de centenas e centenas de profissionais, simplesmente, porque pensaram que o planejamento é algo apenas para ser feito pelas empresas e não por eles mesmos. Se o sucesso de um empreendimento é extremamente difícil, a despeito de meticuloso planejamento, imagine não fazê-lo.

No comments: